9 de jul. de 2010

Roteiros - Caio

Trajeto demarcado no Google Maps


Canteiro divisor Av. Moraes Sales


Canteiro divisor Av. Washington Luiz


Canteiro divisor Vila Campos Sales/ Vila Ipê


Canteiro divisor Av. Brasil



Passeios pelos espaços existentes e inexestes no real. Como forma de captar este trajeto foi feito uma demarcação de memórias pessoais, videos de trajetos determinados por locais conhecidos, onde memórias do passado e presente se modificam constantemente no espaço. São novos singificados pessoais que reformulam o espaço conhecido por mim e os transeuntes.

• O trajeto demarcado foi elaborado com pontos de memórias pessoais, que devem cruzar com outras memórias de outros. Como a Praça Anita Garibaldi onde marca minha infância e os passeios de bicicleta.

• Os videos documentam passeios em locais por volta de uma área conhecida por mim e duas avenidas conhecidas por muitos moradores de campinas (como Av. Brasil no começo da mesma ao lado do posto-ilha). Estes videos mostram canteiros entre duas ruas ou avenidas que servem como forma de divisor de sentido.

Canteiros escolhidos aleatóriamente por questão do momento em que me encontrava na caminhada pelos respectivos locais. Nesta caminhada sem rumo me deparo com estes divisores, registro este momento de forma abstrata (onde causo um pouco de enjoo para que o espectador). Pois neste trajeto me distâncio do local real em que me encontro. E assim flutuo em ideias que me levavam a lembranças que são presentes neste local. Além das lembranças me deparava com pensamentos soltos na mente que acabam sumindo no caminha final determinado pelo canteiro-divisor. Com este fim acaba se tornando o divisor de pensamentos momentaneos. Que sãolevados ao esquecimento de memórias e ideias contruidas nesta caminhada. E assim reinvento o local com novas lembranças, ideias pessoais. Eu retomo ao fim da caminhada, a minha vida determinada por compromissos e cotidiano que nos encontra ao fim de cada flanar instantaneo. O flanar nos pensamentos pessoais de memórias nunca contadas e esquecidas.

5 de jul. de 2010

Ensaio com Mamonas











Eu me propus a uma caminhada. Sem saber o que a caminhada poderia me propor, fui.
Tendo em mente apenas o ponto zero como início desse processo, que não incluía só uma caminhada mas também um retrato de uma história de anos atrás, já que o roteiro fazia parte de um conjunto de outros caminhos percorridos por mim, quase que rotineiramente no passado.
No ato de refazer este caminho, procurei por pessoas que também estavam ou já estiveram ali e deixaram traços e pegadas, no qual o meu roteiro estava inserido no deles. Onde objetos, canteiros entre outros cenários, incluindo especialmente aquilo que estava ligado aos mínimos detalhes e a natureza presente no lugar, faziam parte de um todo contido por tantas histórias.
Ao começar a caminhada, observando o que ainda estava entre esses anos intacto e o que havia mudado, me deparei com as mamonas vermelhas, que na verdade representavam o meu eu que uma vez embalado pelos ventos, fora percorrendo aquele caminho e agora em minhas mãos, eu levava comigo aquelas mamonas.
O ensaio nada mais é, o reflexo do hoje nostalgia do ontem, mas com fotos que retratam um caminho quase imperceptível se for refeito, já que as fotos retratam detalhes de uma viagem particular, dando ênfase a detalhes quase sempre desprezados.

Diego Hrq

18 de jun. de 2010

Mapeamentos parciais

Este é o resultado de parte do meu primeiro mapeamento, espécie de "coleta" e "demarcação" por locais de interesse que fazem parte do meu entorno, com os quais me deparo nas minhas caminhadas diárias. Escolhi dois deles por enquanto, mas existem outros esperando para serem mapeados. A idéia não é fazer uma descrição ao pé da letra do que eu vejo, mas estabelecer associações de segunda ordem, poéticas.


Primeiros pontos de interesse marcados


Um dos meus roteiros



A casa dos gatos mapeada no Google Earth e os registros publicados no Panoramio.


17 de jun. de 2010

Sobre memórias


"Mas só se pode viver em um lugar de cada vez. E a sua própria vida, enquanto ela está acontecendo, nunca é muito atmosférica, até ela se tornar uma memória".
Andy Warhol

Bispo do Rosário














Algumas das imagens das quais vimos na aula, e o link para dois vídeos sobre a vida e obra dele.


http://www.youtube.com/watch?v=x9wc-_XoCcw

http://www.youtube.com/watch?v=UVEaZHOUMok&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=LdeNAWBlRWs&feature=related









Richard Long e seus caminhos







Minimalistas, porém poeticamente densos.

Pra quem quiser saber mais:
http://www.richardlong.org/



Yoko Ono – Instrução

Desenhe um mapa imaginário.
Faça uma marca objetiva (X) no mapa, onde vc deseja ir.
Vá caminhando numa rua atual de acordo com seu mapa.
Se não houver rua onde deveria haver de acordo com o mapa, faça uma colocando os obstáculos à parte (de lado).
Quando você alcançar o “X”, pergunte o nome da cidade e dê flores para a primeira pessoa que você encontrar.
O mapa deve ser encontrado exatamente, ou o evento será desprezado (perder o rumo).
Diga aos seus amigos para escrever (desenhar) mapas.
Dê mapas aos seus amigos (verão de 1962).

Tabacaria - Fernando Pessoa


TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.


Álvaro de Campos, 15-1-1928

O espaço segundo Michel de Certeau


Para Michel de Certeau o espaço é um lugar praticado . Nas palavras do autor:

Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência... um lugar é portanto uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade... Existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade e a variável tempo. O espaço é um cruzamento de móveis*.

O espaço realiza-se enquanto vivenciado, ou seja, um determinado lugar só se torna espaço na medida em que indivíduos exercem dinâmicas de movimento nele através do uso, e assim o potencializam e o atualizam. Quando ocupado, o lugar é imediatamente ativado e transformado, passando à condição de lugar praticado. O autor discorre acerca de uma realização espacial do lugar, comparando o espaço à palavra e o lugar à enunciação, ou seja, no momento em que a palavra é proferida ela é atualizada. Ou então quando uma rua, geometricamente definida por um projeto urbanístico, é constantemente atualizada, ativada e transformada por seus usuários.
O lugar praticado é algo fisicamente imóvel que depende das dinâmicas de deslocamentos de um coletivo para se re-significar e atualizar-se constantemente. O dispositivo que transforma o espaço em lugar é efêmero, mas adquire tal condição justamente por uma vivência temporal do indivíduo em determinado lugar, segundo o autor. O espaço público só adquire identidade quando praticado pelos indivíduos através do contato físico, pressupondo um tipo de enraizamento – provisório – com tais lugares. As transições de um lugar a outro, realizadas pelo coletivo de praticantes das cidades geram reverberações constantes nas passagens de lugar para lugar-praticado, de anônimos para portadores de identidade.
Além disso, o lugar está intimamente ligado ao relato, em uma espécie de bricolagem do mundo, constituído por resíduos ou detritos deste agrupados de diferentes formas. Fragmentos diversos como lembranças são unidos, justapostos como numa colagem com o intuito de produzir sentido a determinado local. Os relatos são da ordem do não visto, já que têm o poder de detectar presenças do que já não existe mais, mas que um dia existiu. Afirma Certeau:
Os lugares são histórias fragmentárias e isoladas em si, dos passados roubados à legibilidade por outro, tempos empilhados que podem se desdobrar mas que estão ali antes como histórias à espera e permanecem no estado de quebra-cabeças, enigmas, enfim simbolizações enquistadas na dor ou no prazer do corpo.
* Livro: A Invenção do Cotidiano: 1 - Artes de fazer, páginas 201/2

16 de jun. de 2010

Robert Smithson - Monuments of Passaic
















Alguns registros do relato do asseio que o artista fez em Nova Jersey num sábado de 1967.












Para saber mais sobre o artista e suas obras:

http://www.robertsmithson.com/

Alguns trechos sobre o flâneur


Retirados do livro Passagens de Walter Benjamin



Flâneur é o ser que observa o mundo que o cerca de maneira real e descritiva, levando a vida para cada lugar que vê. O flâneur descreve as cidades, as ruas, os becos, o externo. Recrimina o privado de modo a ver a rua como lar, refúgio e abrigo – reflete a necessidade de identificação dele para com a sociedade.

Flanar é vagar pelas ruas não simplesmente caminhando, é andar observando tudo à volta.
O flanêur é um amante das ruas que repara em detalhes que para outros cidadão passam despercebidos. Ele valoriza objetos, lugares, pessoas que o observador comum já não repara, por fazerem parte de uma rotina.

E o flâneur observa cada degrau, cada pedra do calçamento, cada placa de loja, cada portal.

O individuo flâneur utiliza sua janela para fazer sua observação e seu retrato. O flâneur é um fotografo além de imagens, ele registra idéias, sentimentos e atitudes.
Figura do flâneur como protótipo do sujeito moderno – vagar errante, gracioso e fortuito que mantém a percepção aberta para experiências de toda ordem – reinventa a cidade a cada passeio, tem uma maneira própria de tecê-las, andar, apalpar, errar por caminhos não definidos pautados por um ritmo próprio, que se preocupa tão somente com metáforas pessoais para a significação do espaço.

A rua conduz o flâneur por um tempo que desapareceu, rumo a um passado que pode ser tão mais interessante por não ser seu próprio passado, seu passado particular.

“Paisagem construída de pura vida”. A cidade de fato se torna paisagem para o flâneur. A cidade cinde-se em seus pólos dialéticos. Abre-se para ele como paisagem e fecha-se em torno dele como quarto.

Relatório de um agente secreto/ o homem da multidão.

O flâneur não se nutre apenas daquilo que lhe passa sensorialmente pelos olhos, mas apodera-se frequentemente do simples saber, como de algo experienciado e vivido.

Em 1839, era elegante levar consigo uma tartaruga quando se passeava. Isso dá uma idéia do ritmo de flanar.

A cidade é a realização do antigo sonho humano do labirinto. O flâneur, sem o saber, persegue essa realidade.

Sobre a lenda do sujeito; “com a ajuda de uma palavra que escuto ao passar, reconstituo toda uma conversa, toda uma vida; o tom de uma voz é suficiente para unir o nome de um pecado capital ao homem com quem acabo de cruzar, de quem só vislumbrei o perfil”

O espaço pisca para o flâneur. Esse compõe seus devaneios como legendas para as imagens. Trata a cidade como território de caça. É um observador, um espião. A figura do flâneur prenuncia a do detetive. O flâneur devia procurar uma legitimação social para seu comportamento. Convinha-lhe perfeitamente ver sua indolência apresentada como aparência, por detrás da qual se esconde de fato a firme atenção de um observador seguindo implacavelmente o criminoso que de nada suspeita.

Kurt Schwitters
















Falamos dele em pelo menos duas aulas. Sua importância se deve, entre outras coisas, ao pioneirismo com que utilizou objetos cotidianos encontrados na rua para criar suas colagens além do Merzbau, que é uma espécie de colagem de elementos no espaço. Isso nos anos 1930.