17 de jun. de 2010

O espaço segundo Michel de Certeau


Para Michel de Certeau o espaço é um lugar praticado . Nas palavras do autor:

Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência... um lugar é portanto uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade... Existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade e a variável tempo. O espaço é um cruzamento de móveis*.

O espaço realiza-se enquanto vivenciado, ou seja, um determinado lugar só se torna espaço na medida em que indivíduos exercem dinâmicas de movimento nele através do uso, e assim o potencializam e o atualizam. Quando ocupado, o lugar é imediatamente ativado e transformado, passando à condição de lugar praticado. O autor discorre acerca de uma realização espacial do lugar, comparando o espaço à palavra e o lugar à enunciação, ou seja, no momento em que a palavra é proferida ela é atualizada. Ou então quando uma rua, geometricamente definida por um projeto urbanístico, é constantemente atualizada, ativada e transformada por seus usuários.
O lugar praticado é algo fisicamente imóvel que depende das dinâmicas de deslocamentos de um coletivo para se re-significar e atualizar-se constantemente. O dispositivo que transforma o espaço em lugar é efêmero, mas adquire tal condição justamente por uma vivência temporal do indivíduo em determinado lugar, segundo o autor. O espaço público só adquire identidade quando praticado pelos indivíduos através do contato físico, pressupondo um tipo de enraizamento – provisório – com tais lugares. As transições de um lugar a outro, realizadas pelo coletivo de praticantes das cidades geram reverberações constantes nas passagens de lugar para lugar-praticado, de anônimos para portadores de identidade.
Além disso, o lugar está intimamente ligado ao relato, em uma espécie de bricolagem do mundo, constituído por resíduos ou detritos deste agrupados de diferentes formas. Fragmentos diversos como lembranças são unidos, justapostos como numa colagem com o intuito de produzir sentido a determinado local. Os relatos são da ordem do não visto, já que têm o poder de detectar presenças do que já não existe mais, mas que um dia existiu. Afirma Certeau:
Os lugares são histórias fragmentárias e isoladas em si, dos passados roubados à legibilidade por outro, tempos empilhados que podem se desdobrar mas que estão ali antes como histórias à espera e permanecem no estado de quebra-cabeças, enigmas, enfim simbolizações enquistadas na dor ou no prazer do corpo.
* Livro: A Invenção do Cotidiano: 1 - Artes de fazer, páginas 201/2

Um comentário:

  1. Muito esclarecedor. De fato, lança luz ao conceito de espaço e lugar de Michel de Certau. C.Luz - SE

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